“O Jogo do Poder” no Maranhão
A VII Semana do Teatro no Maranhão começou dia 26 deste mês e se estende até dia 1 de abril. Com 44 peças, sendo 25 apresentações locais e 19 nacionais, sendo dois destes do centro-oeste. E no dia 31, o ator Ivan Lima sobe ao palco do Teatro Arthur Azevedo com o monólogo “O jogo do poder” de Maria Helena Kuhner.
Sinopse
O jogo do poder conta a história de um ator que resolveu deixar sua vida de artista e sair em busca de si mesmo, numa peregrinação à Índia. Durante essa viagem de busca, o ator se depara com gurus e faz meditações por dois anos. Na volta da experiência acaba vindo para Goiânia, momento em que resolve visitar alguns médicos indianos que aqui trabalhavam. A trama narrada é baseada em uma história real ocorrida há 20 anos.
Serviço:
Dia: 31 de março
Local: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, s/n – Centro)
Cidade: São Luís – Maranhão
Ingresso: Gratuito
Ficha técnica:
Direção: Renato Mendonca Lucas
Cenário: Paula Fernanda Santos Mauri
Música: de Lino C. Araujo e Tony CAlaça
Produção: Lúdica Projetos Culturais
Luz: Rodrigo Assis
Som: Ione Faleiro
Saiba mais…
Maria Helena Kuhner, a autora, comenta que já se disse que o teatro atual, dito pós-dramático, tem como um de seus traços essenciais a narração: o teatro se torna lugar para o ato de contar, para a presença de alguém que vem comunicar uma experiência pessoal, uma lembrança, uma vivência real ou imaginária, com a proximidade de um encontro pessoal que se contrapõe às “realidades”.
A autora também cita que a peça, nasce de um fato real: o afastamento da carreira, por um ator em virtude da direção que Ela tomou, e a dor resultante com a perda de algo que o deixa transtornado. Trajetória que se confunde com a do Ator Ivan Lima, radicado em Goiânia há 20 anos, após abandonar os Palcos Paulistanos e viver durante dois anos na Índia. O texto enfatiza o jogo do ator, sua luta, desde seu contato primeiro com o personagem, até descobrir a verdadeira identidade, o outro, que se esconde atrás das aparências. E questiona a verdadeira função do Ator.”
Crítica de Valbene Bezerra
O PODER DE IVAN LIMA NO PALCO
Depois de quase 20 anos afastado do palco, o ator Ivan Lima retomou a carreira em grande estilo. Interpretando um personagem que tem tudo a ver consigo mesmo (até parece que a autora Maria Helena Kuhner escreveu a peça sob medida para ele), Ivan demonstrou grande vigor no palco do Teatro Sesi na peça O Jogo do Poder – Monólogo Para um Ator.
O argumento remete à vida de um ator que desmotivado com a carreira artística e o rumo incerto de sua própria vida decide abandonar tudo, pegar a estrada em busca de novos horizontes. Depois de muitas idas e vindas, novas experiências e alguns fracassos, o amor ao teatro cala fundo na alma do ator e ele decide voltar ao palco para interpretar o desprezível agiota judeu Shylock, o complexo personagem de William Shakespeare.
Texto escrito com sensibilidade pela carioca Maria Helena Kuhner, a peça O Jogo do Poder – Monólogos para um Ator expõe as crises que às vezes experimentamos ao longo da vida. No caso dele, a questão é saber o verdadeiro sentido da função de ser ator, do que realmente se esconde atrás das aparências, da fragilidade do seu eu interior. Maria Helena demonstra conhecer a situação, que Ivan interpreta tão bem no seu retorno ao palco nas comemorações dos seus 46 anos de carreira, iniciada no Rio de Janeiro, sua terra natal.
Ivan não esconde sua paixão pelo teatro, o momento da comunhão que o personagem compara ao tradicional ritual da missa católica ao se entregar por inteiro à sua plateia: “Tomai e comei, este é o meu corpo. Tomai e bebei, este é o meu sangue”. Teatro é sim uma comunhão. É viver muitas vidas, é a transmutação constante no outro. Os rompimentos, sejam quais forem, não são fáceis. Acredito não ter sido fácil para Ivan o meio em que vivia: as leituras dramáticas, os ensaios, a agitação da coxia, os bastidores estressantes nas noites de estreia.
Mas, creio que o tempo de meditação na Índia, o recolhimento interior e as experiências vividas tenham lhe feito muito bem, assim como o retorno gradativo: primeiro dirigindo peças como convidado, como fez para o Núcleo Freudiano de Psicanálise e o ator João Bosco Amaral. Depois a decisão para a volta triunfal. Ivan está animado, quer fazer temporadas, viajar, reconquistar o seu espaço a partir de Goiânia, a cidade que há mais de 20 anos escolheu para viver.
Galã
Ex- galã dos filmes de Mazzaroppi, garoto propaganda de mais de 500 comerciais de TV, o carioca Ivan Lima teve o privilégio de atuar com Dulcina de Morais, Marília Pêra, Irene Ravache, Joana Fomm, Darlene Glória, Paulo Autran, Antônio Fagundes, foi dirigido pelos mais competentes diretores do teatro. Formado pelo Conservatório Nacional de Teatro do Rio de Janeiro, foi aluno do polonês Ziembinski e do italiano Eugenio Kusnet, dois dos nomes de maior expressão do teatro, não exitou em deixar tudo para trás, pegar a estrada e sair pelo mundo à procura do seu “eu”. Foi para Índia onde viveu dois anos, meditou, virou um quase hippie, conheceu pessoas que lhe deram verdadeiras lições de vida. Teatro, cinema, TV ficaram p/trás.
Como o que se aprende não se esquece jamais, Ivan Lima está em plena forma como ator. Pode dar-se ao luxo de dirigir e interpretar qualquer papel. A direção comedida do psicanalista Renato Lucas, ator e diretor bissexto permitiu a Ivan Lima reocupar o seu espaço. Paula Mauri criou o cenário, o figurino e fez a produção de arte. Rodrigo Horse mapeou a iluminação. Lino e Tony Calaça compuseram a trilha sonora que dá a densidade necessária à encenação.
A produção contou com o patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. O Jogo do Poder arrebata pela sensibilidade do argumento e a sinceridade da interpretação do artista que um dia decepcionou-se com o meio artístico. Pelo grande ator que é desejo vida longa a Ivan Lima no palco.